April 17, 2017

Diário a bordo | Contacto directo com monges adolescentes

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Mysore (India), 2 de Novembro de 2011

Mysore admito que até agora foi a escolha mais estúpida que fiz, não sabia bem que fazer a seguir a Hampi e acabei por olhar para o mapa e dizer para mim mesma que ia para Mysore. Basicamente é uma cidade muito turistica, mais virada para turistas indianos, em que tens este e aquele templo, mais o palácio e pouco mais. O que gosto mais quando visito um local é a cidade/vila em si e não o que ela tem lá dentro, se são museus incríveis, igrejas magnificas e monumentos espectaculares. Mais interessante que tudo é o que o local transmite e não a quantidade de "coisas giras".

Decidi então fazer algo de interessante já que a minha escolha para Mysore foi um fiasco ao menos fazer o melhor que podia. Assim, marquei uma massagem ayurduvedica que revelou-se uma óptima decisão pois foi uma hora e meia com duas indianas de Kerala a massajar cada sitiozinho do meu corpo, estava mesmo a precisar destas energias! E no dia antes de abalar, decidi passar o dia num mosteiro budista tibetano, a 80 kms. Toda a gente sabe a minha fixação pelo budismo, mas agora percebi que afinal não é só pelo budismo, tenho uma paixão só agora descoberta por religiões, não pela adoração a um Deus ou Deuses mas sim a mensagem que tenta passar ao ser humano. Assim, descobri que pertenço a um bocadinho de cada religião porque todas fazem parte do meu quotidiano e da minha forma de ver o Mundo.


Nessa manhã chegaram 2 alemãs (18 e 19 anos!!!) à casa do Santosh (meu anfitrião do couchsurfing, a viver com a esposa e pais na mesma casa e na qual fiz parte durante 4 dias) Decidiram logo vir comigo, gostei logo da atitude delas e no final do dia gostei bastante delas. Chegamos finalmente ao local depois de duas horas num autocarro a cair de velho que parecia não ter amortecedores. Sim, aqui 80 kms fazem-se em duas horas e com sorte!! As estradas não têm nada que ver com a nossa Via do Infante... a N125 é brutal mesmo!!!

Mal chegamos ao mosteiro senti logo uma paz a invadir-me o corpo e a alma. As energias (boas ou más) sempre me atingiram à velocidade da luz e aquele local era propicio para meditação ou quem sabe ficar por lá perdida uma boa remessa de dias. O mosteiro era composto por diferentes divisões onde os tibetanos estudam e ensinam o budismo. Pode demorar cerca de 9 anos até que estejam preparados para ser professores de budismo e é isso que fazem para o resto da vida. Para mim é o equivalente a um padre, pois não formam família apenas vivem para a religião. Mas quando chegamos ao chamado Templo de Ouro foi tiro e queda, fiquei rendida e imediatamente sentei-me no chão e fechei os olhos. Sem dizer uma única palavra, as duas alemãs fizeram exactamente o mesmo. Ficamos ali uns 10 minutos a sentir cada vibração do local. À nossa frente tínhamos 3 budas feitos de ouro com cerca de 30 metros cada, algo abismal mesmo. E à nossa volta tínhamos várias pinturas coloridas referentes ao budismo.


A certa altura o local ficou muito "povoado" por famílias indianas turistas que não respeitaram o local e faziam bastante barulho então decidimos sair dali porque as alemãs queriam fumar um cigarro. Saímos do mosteiro e olhamos a nossa volta, não fazíamos ideia para onde nos dirigirmos até que encontramos um local lá ao fundo cheio de bandeirinhas coloridas como no mosteiro e decidimos que seria um bom local.
Num espaço de 10 minutos chegou um monge vestido com a sua vestimenta de budista ("saia" e "lenço" cor de vinho com a t-shirt laranja) e com um IPAD na mão e perguntando se poderia nos tirar uma foto. Muito admiradas que um monge tinha acesso a um IPAD dissemos logo que sim.
Quando demos por nós estávamos a 15 metros do local a descascar massarocas de milho com mais 3 nepaleses e 2 taiwanenses (!!!!) Foi tão terapêutico e por outro lado estávamos a fazer algo de produtivo nesta viagem: a ajudar no negócio do senhor do Nepal =) Eram muito simpáticos e num espaço de meia hora acabamos aquilo tudo.

Depois disso tivemos a assistir um jogo de cricket dos monges!!!! Opá demais, parecia tão surreal, às tantas estava um sem a t-shirt, outro já estava de boxers, é o calor! Senti-me em casa.
Já que estava um monge ao nosso lado aproveitei para tirar mil duvidas em relação à vida de um monge. Este rapaz de 18 anos estava ali porque quando era criança os pais decidiram por ele que iria ser um monge pois era bom para ele. Bom para ele??? E a decisão dele? Na verdade podes dizer que não mas podes criar problemas com a tua família. É por estas e por outras que dou imenso valor aos pais que tenho e à educação extraordinária que me souberam transmitir, se não a esta hora não estava aqui, na Índia, sozinha :D Falamos sobre a importância de constituir família e sobre o conceito de amor que é completamente diferente e o que me "preocupou" mais é que ele justificava tudo com livros e ensinamentos. Eu não verbalizei estas palavras mas pensei para mim "A vida não se aprende nos livros" citando o escritor Daniel Sampaio. Foi uma conversa muito positiva, fiquei feliz que ele não tenha ficado pasmado quando lhe disse que quando tinha 18 anos, a idade dele, não queria saber de estudar mas de andar em festas e beber álcool, experimentar coisas novas. Ele respeitou tudo e pela primeira vez na Índia, estávamos rodeadas por 50 homens e nenhum olhou para nós com aquele olhar "el matador".
Cereja topo do bolo: Jantamos na cantina do mosteiro comidinha tibetana, uma pausa da comida indiana que me soube pela vida!

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  1. "Judge yourself and not others" essa foto foi o que mais se destacou no post <3...o post esta muito bom, mas essa mensagem é algo marcante :)

    Beijinhos e boa semana**
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    1. Sou suspeita pois adoro uma boa quote. Esta estava lá no mosteiro e também me saltou à vista. Vivíamos num mundo com mais respeito e União se a seguissemos =)

      Boa semana para vocês**

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  2. Como eu adoro ler as tuas historias 💗.
    Obrigada por as partilhares.
    Beijinho e boa semana.

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    1. Mesmo tão mal escritas? Hehe quando leio os meus diários fico mesmo feliz, não só por rever todos estes momentos mas também porque percebo que a minha escrita hoje em dia sofreu uma evolução positiva.
      Beijinhos querida Catarina!

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  3. Queria meter aqui um coração... mas não sei como é...
    Só sei deixar isto assim <3
    beijinho

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    1. O que conta é a intenção =) lamechisses à parte, copias um coração dos símbolos do word e colas aqui tcharannn! De nada filha :)*

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  4. Uma experiência única. Eu sempre digo "nada acontece por acaso". ;)
    Imagina se os alemães não teriam dito que queriam fumar....

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  5. Sempre tive um interesse por religião. É como dizes, não é por acreditar num deus ou deuses, mas sim pela mensagem que transmitem. Da minha interpretação, as religiões são todas muito parecidas, e a ideia que passam é a mesma: amor para todos. É a minha forma de ver a coisa.

    É tão interessante quando conhecemos pessoas e entramos em situações com a quais não estamos a contar! É das coisas que mais gosto em viagem.

    Mundo Indefinido

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  6. Esta tua ideia do diário de viagem é porreira. Fiz isso qdo comecei o blogue, na viagem a Moçambique e é outra fruta partilhar o que vivemos no momento, com todas as emoções ainda à tona.
    Creio que ser monge pode ser encarado como uma forma encontrada pelas famílias para fugir à pobreza, ou não? Um pouco como o ser padre há uns anos atrás. Seja como for, é difícil entender k alguém escolha por nós algo k nos vai marcar para sempre.

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Grata por comentares, adoro saber o que passa pela tua mente.

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