March 23, 2017

Aquele ano que vivi nos Estados Unidos da América


O meu álbum de fotografias (aka bolsa com cds cheios de fotos gravadas) do ano que vivi nos Estados Unidos da América estava perdido. Esvaziei a minha casa em Loulé quando me mandei 4 meses para a América Central com o Bruno e deixei algumas caixas na cave/despensa dos avós. É verdade que ando num eterno processo de simplicidade e minimalismo mas há coisas que não consegues jogar fora: memórias. 
Compilei todas as fotos de um ano nos EUA em quatro cds. Na altura da Universidade quantos documentos e trabalhos finalizados perdidos nas pens usbs da vida ou até as malditas disquetes que teimavam fazer aquele barulho estridente e não havia jeito de abrirem. Passei a usar cds para gravar fotografias por acha-los mais seguros e difíceis de perder. Só que não. Todas as vezes que ia à despensa buscar algo procurava, procurava e não encontrava esses cds em lado nenhum, até que há uns tempos finalmente dei de caras com eles. Woohoo!

Estes cds não contêm apenas a minha vida nos Estados Unidos da América, estão incluídas as minhas viagens a Toronto, Jamaica, Rio de Janeiro e a road trip que fizemos na minha van à Costa Este inteira, desde Maine até Florida.
A minha memória é pequena então acabo por me refugiar na imagens digitais... conseguem imaginar a minha alegria quando finalmente pus as mãos nestes cds? Assim sendo posso escrever-vos sobre este ano atribulado mas deveras especial, ilustrado por algumas fotografias que me são queridas. Ready?

Os meus primeiros colegas de casa e os melhores de sempre! Apresento-vos o Wout da Holanda e a Faith da Bélgica. Love you party animals ♡ ♡

Entretanto eu e o Wout apaixonamo-nos e vivemos uma bonita história de amor durante este ano.


Mal podia esperar para terminar a licenciatura para finalmente estar livre para viajar o Mundo. Sempre quis ser jornalista para poder viajar e entrevistar diferentes etnias, depois aproveitaria a minha influência para ajudar ONGs e projectos comunitários. Eu queria fotografar, fazer documentários e vídeos para serem vistos na televisão e assim todo o Mundo tinha acesso ao que se passava ao nosso redor.

Assim que terminei o meu curso de Educação e Intervenção Comunitária e não Jornalismo (aos 18 anos descobri que afinal não queria ser jornalista porque tinha de trabalhar 12 horas por dia, o que retira imenso tempo do meu precioso tempo de lazer, só para não falar que seria complicado constituir família e dedicar-me a ela) comecei logo a procurar formas de sair de Portugal, tinha metido na cabeça que o meu primeiro trabalho seria no estrangeiro. Uma amiga falou-me neste projecto em Cabo Verde e fiquei radiante, era mesmo isso. Mas esperei, esperei e nada. A minha amiga já nem atendia os meus telefonemas e fiquei mesmo desiludida. Durante uma semana inteira enfiei-me em casa como um urso quando hiberna, sempre em frente ao computador a pesquisar sites e projectos. Cada dia que passava estava mais depressiva, tudo o que menos queria era ficar em Portugal, estava morta para ter a aventura da minha vida. 

Finalmente dei de caras com o ILEX (International Learning Exchange) que era um programa destinado a Educadores Sociais da Europa, dispostos a trabalhar na Costa Este dos Estados Unidos da América, com contas e aluguer da casa pagos e um salário de 900 dólares por mês. AWESOME DEAL BABY! 
Havia aqui dois problemas: tinha que comprar um carro lá e aguentar-me o primeiro mês, ou seja, precisava de cerca de 4000 dólares e tinha de contar aos meus pais a minha decisão de ir para os Estados Unidos da América. 




Uma vez que sou teimosa de nascença e quando quero muito algo vou em frente decidi transformar os meus dois problemas em desafios. E adivinhem? Consegui! Tive dois empregos durante o Verão para poupar o máximo possível e depois de inúmeras conversas com os meus pais, finalmente eles perceberam que não podiam impedir a minha felicidade e respeitaram a minha decisão. Estava preparada, de malas e bagagens, para embarcar na minha aventura americana!

Fiquei a morar numa cidade pequena chamada Skowhegan no estado de Maine. O meu trabalho era um bocado de loucos mas adorei cada pedacinho. Trabalhava com crianças em risco com sérios problemas sociais, educacionais e comportamentais. Não sei bem como dizer isto, mas acolhíamos as crianças que ninguém queria. Por isso que na nossa unidade podíamos acolher apenas 6 crianças de cada vez. Qualquer dia escrevo um post mais detalhado como eram passados os meus dias num trabalho deste género. Spurwink é aquele local de trabalho que jamais esquecerei, pelo bem e pelo mal. Aprendi tanto aquele ano! Por vezes era atacada por estas crianças e mesmo assim adorava-as! Cheguei a sair do trabalho com os braços em sangue mas sempre com um sorriso de "missão cumprida". 

Maine faz fronteira com o Canadá, conseguem imaginar as temperaturas geladas de -30ºC!! Eu, a menina do Algarve, que raramente sentia temperaturas menos zero. Estaria a mentir se dissesse que isso não tinha importância, tive de me concentrar no mantra "é só por um ano" e depois de 100 filmes assistidos naquele ano e pausas a viajar lá consegui chegar ao fim. Posso dizer que aproveitei ao máximo a neve: fiz snowboard, patinagem no gelo em lagos de gelo de verdade, andei de mota da neve (snow mobile), sladding e senti-me tranquila e feliz a observar nevar lá fora enquanto bebia o meu chá quente na minha casa quente. 



Tentei tirar proveito máximo daquele ano, pois sabia que o mais certo era nunca mais voltar e uma oportunidade destas era para ser vivida à flor da pele. Comemorei o Thanks Giving pela primeira vez com uma família americana e o Halloween com direito a mega festa e miúdos o dia inteiro a baterem-me à porta com o "trick or thread". Fui convidada para o casamento americano da minha colega de trabalho Darcy, que se revelou uma grande amiga. Fui ao Mc Donalds, Taco Bell, Subway e todas essas cadeias alimentares de fast food. Ganhei 10 quilos. 



Para além disto viajei imenso. Como tinha 3 dias de folga de seguida consegui ir três vezes a Nova Iorque, explorei a área de New England e fui ao Canadá: Toronto, Niagara Falls, Montreal e Quebec. Numa tentativa de fugir ao frio visitei a Jamaica em Fevereiro e o Rio de Janeiro em Maio. Um mês antes de voltar para Portugal, o meu irmão e a minha melhor amiga Ana vieram me visitar por duas semanas, peguei na minha melhor amiga americana Jenn e na minha carrinha de sete lugares e lá fomos os quatro numa road trip pela Costa Este. Foi surreal!



Em Agosto faz 9 anos que estava a abalar para os Estados Unidos da América para viver uma das experiências mais valiosas da minha vida. Não era apenas o viver num país diferente com uma cultura diferente, era o viver sozinha sem os meus pais pela primeira vez, garantir que o dinheiro era suficiente para alimentar-me e fazer todas as viagens que queria e o trabalhar na minha área pela primeira vez, ainda por cima no local que foi :) É difícil esquecer todos os sorrisos que partilhei, os quilos que ganhei, lidar com a neve e temperturas muito abaixo do zero, muita festarola, 16 horas de turno ao Domingo. Nunca fui tão consumista. Aprendi sobre a realidade americana para descobrir que o american dream é uma grande treta.

Gostavas de morar nos Estados Unidos da América? Ou existe algum país que adoravas viver por uns tempos? 

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  1. adorei ler este post. que grande aventura e coragem. gostava de ser assim também!

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    1. A coragem ganha-se ao longo do tempo, basta nos atirarmo-nos ao que nos faz felizes, sem receios. Percebemos que afinal é simples e que a complicação está toda na nossa cabeça. Queres ir? Vai! =)

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  2. Fiquei apaixonada por este post, pela tua experiência! Wow! Ah, e percebo completamente a tua felicidade ao encontrares coisas do passado! Uma coisa que eu também não seria capaz de deitar fora são as memórias: fotografias, dvds e tantas outras coisas!
    Beijinhos

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    1. Muito obrigada pelo teu comentário tão bonito Lúcia!
      Os dvds tenho conseguido ficar apenas com os preferidos dos preferidos mas fotografias tudo guardadinho =)

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  3. Que experiência maravilhosa que viveste Marta!!! Consegue-se sentir o teu enriquecimento pessoal nas tuas palavras. Fizeste muito bem aproveitar cada pedacinho! Bem me arrependo de nunca ter embarcado numa aventura dessas, nem que fosse só por um par de meses.

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    1. Mas ainda vais a tempo! Pensamos que só quando somos jovens é que dá para fazer aventuras destas mas não. Se te organizares, se é prioridade na tua vida, sei que consegues ir. Não interessa a idade nem as condições. Trabalhei em dois sítios 3 meses e sobrevivi =D

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  4. Adorei esta publicação! Que grande aventura! :)


    A Marca da Marta

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    1. Foi pois! Logo aos 24 anos descobri que não tinha perfil de emigrante hehe

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  5. Adorei este post, obrigada por partilhares a experiência :) Também sou incapaz de me livrar de memórias assim, sejam bilhetes de autocarro de viagens antigas, fotografias, às vezes, até guardo faturas de cafés e não tenho coragem de as deitar fora...

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    1. Faturas de cafés!! Olha que é novidade para mim... para te recordares de cafés com pessoas especiais Inês?

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    2. Também :) E se um dia voltar àquele lugar fico com um registo do nome do café (se a língua for compreensível) e posso lá voltar.

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  6. Grande aventura!!
    Gostei do post e de ver a tua experiência! :D

    Beijinhos
    Rose
    _________________________
    All The way is an adventure
    Jess & Rose Blog | Youtube

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  7. Que grandíssima aventura! Os Estados Unidos é sem dúvida um sítio que gostaria de visitar. Para além dos tradicionais New York, Washington, S.Francisco e Miami, quero MUITO ir a Las Vegas e ao deserto do Nevada e também fazer TODA a route 66 e conhecer mesmo o interior dos Estados Unidos. Acho que em um mês até fazia tudo, basta organizar-me e recolher uns trocos :P

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    1. Aiii quero tanto comprar uma carrinha ou autocaravana nos states e fazer a route 66, está na bucket list!!
      Posso dizer te que nova iorque e São francisco São cidades unicas e interessantes mas miami e washington não gostei tanto. O mais bacano dos eua são os parques naturais, a meu ver. Quero ir um a um =)

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  8. Nem sabes o quanto gostei de ler este teu post! Calhou ser publicado na altura certa, pois estou a uma semana de me mudar para os Estados Unidos... por um ano!
    Tal como tu, quero encarar a mudança como uma experiência pois provavelmente não voltarei aos mesmos locais nem terei esta oportunidade tão cedo... só espero não ganhar 10 quilos! haha

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    1. Olha que feliz coincidência Ester :)
      Engordei tanto porque comia noodle cups quase todos os dias ao almoço e não fazia exercício nenhum, a não ser com as crianças que trabalhava.
      Espero que tenhas um ano inesquecível e que voltes com milhentas histórias hilariantes para nos contar!

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  9. Que maravilhosa experiência, Marta! Gostei tanto de ler. Nunca tive uma experiência assim - não por falta de coragem, apenas porque me têm surgido projectos por aqui que me têm entusiasmado o suficiente para me manter em Portugal. Mas não deixo de admirar a vontade e persistência que tiveste, a forma como te mandaste «de cabeça» à experiência... e que fantástica história tens aqui. Que maravilhosas memórias! Fiquei curiosa com o projecto de que fizeste parte e espero que venhas a escrever sobre ele. Enfim, gostei mesmo de ficar a conhecer. São experiências destas que nos fazem ter muitas vidas numa vida só (acho que entendes o que quero dizer)!
    Conta mais! Beijinhos :)

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    1. Ainda bem que tens tido esses projectos que te trazem desafio e alegria à vida. Nunca estou bem num mesmo sitio durante muito tempo, já me adaptei à ideia =P
      Vou pegar no meu diario e fazer uns posts sobre este ano, até podia iniciar uma rubrica com a quantidade absurda de coisas que tenho para vos contar. Beijoca*

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  10. Lá está... Esta é a forma de dar-mos cor ao minimalismo :D
    Obrigado!!

    Ai que sortuda. Acho que toda a gente tem um pouco esse sonho americano e de passar uma temporada lá :D Quem me dera ir a NY!!!

    NEW PERSONAL POST | How I ORGANIZE My Life: Weekly and Monthly Version.
    InstagramFacebook Oficial PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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    1. NY é uma cidade sem igual, vale muito a pena!

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  11. Como eu gostei de ler este teu posto!
    Admiro tanto este teu espírito aventureiro. Admiro sempre as pessoas assim. Já eu não sou nada dada a isso, e confesso que bem lá no fundo não me importava nada de ser.
    Pelo que nos contas aqui esta foi uma experiência muito boa na tua vida, que bom!
    Muito obrigada por a partilhares connosco!
    Beijinho grande e bom fim de semana!

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    1. É engraçado Catarina, por vezes preferia ser menos aventureira e estar mais quieta, não teria de alimentar esta vontade de explorar o tempo inteiro. Nós seres humanos nunca estamos inteiramente bem =) beijinhos linda!

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  12. Deve ter sido uma experiência incrível! Adorei a forma como não desististe e perseguiste esse teu objectivo. Gosto de pessoas assim, que lutam pelo que querem. Sempre acreditei que quando queremos realmente alguma coisa, somos capazes de a conseguir, e és a prova viva de que isso é verdade. Gostei imenso de ler esta tua aventura, e espero que nos contes mais sobre esse ano nos EUA!

    Mundo Indefinido

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  13. Fantástico Marta, adorei saber da tua experiência e a forma simples e sincera como a contaste. Sem dúvida uma experiência para a vida que eu gostaria de ter tido. Acima de tudo é preciso muita coragem para ir e força para "aguentar", ainda para mais com um trabalho que não me parece que seja fácil e que suponho que tenha exigido bastante de ti. Gostei muito. Beijinhos ****

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  14. Eu vivi lá 3 meses! Foi duro, porque não ganhava ordenado algum e não tinha lá ninguém :p mas fazia tudo de novo! É uma experiência super enriquecedora! Beijinho

    thebrunettetofu.blogspot.pt

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  15. Que grande aventura!! Também quero fazer algo do género assim que acabar o mestrado. Também já estive 1 mês a viajar pela Costa Este dos EUA e não é um país que me fascine... acho que eles acabam por não ter qualidade de vida.

    Beijinhos,
    Filipa

    https://my-world-of-discoveries.blogspot.pt/

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Grata por comentares, adoro saber o que passa pela tua mente.

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