December 8, 2015

Ser vegetariana ou não, eis a questão!


Desde há muito tempo que ando a debater-me com esta questão. Nunca fui amiga de carne, sendo o meu pai pescador e vivendo mesmo ali pertinho do mar, a minha alimentação era 70% à base de peixe. Quando era miuda ainda comia figado até saber donde realmente aquilo vinha. Comi vaca duas vezes na vida, frango ou galinha só mesmo no churrasco, bifes de perú bem fininhos e a carne de porco, aquela que devemos comer em menos proporção, era a que comia mais. 

Quando entrei para a universidade em 2003 foi a reviravolta: tinha uma colega de turma de Lisboa que era vegetariana, nesta altura, pelos Algarves, não se ouvia falar muito neste tema. Ela mostrou-me um Mundo Novo onde os legumes eram cozinhados de uma forma deliciosa e introduziu-me a alimentos como tofu, seitan e soja. Neste sentido, comecei a ficar vidrada no vegetarianismo... até mesmo obsecada. Todos os dias lia sobre o assunto e aos fins de semana via documentários e filmes sobre a exploração animal, de onde vinham os animais que comiamos, o despedicio de lixo que fazemos e, claro, sobre o mal que estamos a causar à Terra. 


Depois de sair da ignorância e estar a par da realidade que vivemos não tive outra hipotese senão tornar-me vegetariana. Foi um processo que durou cerca de três anos em que a carne cortei completamente de imediato(o que me custou mais foram os enchidos como chouriço e presunto), já não a consumia com grande regularidade então foi tarefa fácil. Depois veio o peixe, dizer adeus às caldeiradas de choco e arroz de polvo do meu pai foi muito muito dificil mas tinha aquele objetivo em mente. 

Nesta fase tive imensas dificuldades pois nem a sociedade, nem os restaurantes estavam preparados para vegetarianos pois não tinham pratos que não contessem carne ou peixe, o que dificultou muito a minha vida social, passei a comer omeletes e saladas nas jantaradas - not cool. Ou simplesmente aparecia depois do jantar.
A somar à minha frustação, cada vez que jantava na casa do meu namorado na altura ou na casa duma amiga era sempre a mesma complicação "E agora, o que vamos cozinhar para ti?" Eu sempre fui na boa e não me importava de comer o arroz, batatas e salada do prato, excluindo a parte animal mas as pessoas faziam disto um bicho de sete cabeças "Como não vais comer carne?!! Vais ficar com fome." As piadas no inicio eram engraçadas mas depois de ouvir mil e quinhentas vezes "Então e tu Marta? Vais comer alfaces?" seguido de um riso bem alto, comecei a ficar triste, quase ninguém entendia a minha filosofia e sentia-me sozinha no Mundo.

Entretanto comecei a viajar e aí não tive grande hipotese senão passar a comer animais outra vez. (se quisesse assim muito, conseguia) Nos EUA, onde vivi um ano, as frutas e vegetais eram carissimas e sem qualidade nenhuma. Tofu nas lojas era mentira. Restaurantes com pratos vegetarianos nem vê-los. 
Na Asia até é fácil ser vegetariana, quase que nunca cozinhava para mim pois os pratos eram à base de vegetais e o tofu é um alimento bem conhecido na Asia. Mas países da America Central e America do Sul é à base de carne. Sempre tentei evitar comer carne mas por vezes tinha a necessidade de proteina e lá tinha de ser. 
Muitas vezes eramos convidados a comer em casa de pessoas locais ou amigos de amigos e achava uma tremenda falta de educação as pessoas cozinharem para mim com todo o amor e dedicação para depois não comer... Comia, mas a parte da carne comia só um pedacinho pequeno e o resto dava a alguém, assim meio que surrateira. 
Quando viajo gosto de provar as iguarias que se consomem no país, afinal de contas a gastronomia faz parte da cultura dum país e eu sou mega interessada por culturas. Sim, mesmo que inclua carne. Peixe, é na boa. Mas se houver vegetariano vou sempre preferir. 


Hoje em dia o vegetarianismo está em toda a parte, é tão fácil encontrarmos lojas de produtos naturais ou até mesmo produtos bio nas grandes superficies comerciais. Há tantos livros escritos em português com receitas deliciosas e faceis de preparar, tal como blogues com fotografias apetitosas. Um bom exemplo são as fotos nesta publicação, retiradas do Le Passe Vite, que só apetece é experiementar todas as receitas.
Todos sabemos que para além de uma filosofia, o vegetarianismo, é também uma forma saudavel de nos alimentarmos o que resulta numa maior qualidade de vida. Tudo que é alimentação em pacotes não é boa coisa e os produtos que a terra nos oferece são os melhores para o funcionamento do nosso organismo, é a nossa natureza. 

Agora vem o dilema. Estou a morar em Lisboa, praticamente cozinho sempre em casa e já não tenho desculpas para não ser vegetariana, inclusive fiz o tornar-me vegetariana um objetivo para 2016 mas então o que se passou? Na semana passada fui jantar com o staff do bar que trabalhei este Verão e fomos ao Sushi. Já era a quarta vez que iria e até à data não era uma comida que me enchia os olhos, aliás não entendia porque é que as pessoas gastavam tanto dinheiro numa coisa daquelas. Até que fomos ao AronSushi, lá prara os lados do Saldanha, and guess what? A-D-O-R-E-I!!! Senti um daqueles orgasmos de quando estamos a desfrutar de comida gostosa, divina, surreal.

Como ser vegetariana? Como? Penso que no meio disto tudo, embora reconheça a exploração animal e dos problemas associados à alimentação dos dias de hoje, não sou uma pessoa com atitudes radicais, aliás, gosto muito de manter o meu equilibrio. Se o ser humano podia consumir menos carne e peixe? Podia. Isso iria ajudar nalguma coisa na questão do consumo desenfreado? Acho que sim. Só que fomos educados a ter no prato carne ou peixe e mudar essa mentalidade vai ser um longo percurso. Mas sinto que estamos a dar passos largos nesse sentido.

Tens opinião formada sobre o vegetarianismo? Estás a viver o mesmo dilema que eu? 

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  1. Olá Marta!
    Antes de mais muitos parabéns por este teu novo cantinho.
    Sem dúvida que este é um tema que a mim me fascina muito. Sou adepta de uma alimentação saudável já há muito tempo, não sendo vegetariana. Como peixe e carne de frango apenas. Mas confesso que o consumo é tão pouco que tenho pensado muito deixar de comer. Mas não gosto de me regras neste sentido. Neste processo da alimentação penso que as coisas vão acontecendo naturalmente há medida que vamos tomando consciência do que nos faz realmente falta.
    Por isso minha querida acho que deves fazer o que realmente queres, se te apetecer comer peixe ou carne de vez em quando deves comer. Se simplesmente não sentires essa necessidade então que te tornes vegetariana.
    Beijinho grande e continuação de uma boa semana.

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  2. Ola Catarina!
    Gostei muito do teu ponto de vista. Acho que o que mais me intriga e está coisa de dar nome as coisas. Posso ser vegetariana mas comer 2 rodelas de chouriça assada? Ah não, não posso. Está coisa do posso e não posso deixa-me reticente. A vida e tão curta, porque não aceitar determinada comida quando me apetece?

    Obrigada pelo comentário e volta sempre :)

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    1. O importante minha querida é sermos fiel a nós mesmas, se te apetecer 2 rodelas de chouriça porque não comer??? Nada de extremismos é o que defendo!
      Beijinho grande, vou voltar com toda a certeza1

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  3. Eu adoro carne, não há outra forma de o dizer, adoro enchidos, bifes mal passados mesmo sabendo que muitas vezes isso faz parte duma indústria horrível. Isso faz de mim uma besta? Talvez. Não me tornarei vegetariana porque gosto demasiado de comida, e não quero viver sem os enchidos e o sushi, mas tenho uma missão. Escolher melhor a carne e de onde vem e diminuir o número de refeições com carne. Atitudes mais conscientes sabes?

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  4. Penso que o mais importante é fazermos a nossa parte, não precisamos de comer 3 bifes e se soubermos de onde vem a carne, ainda melhor. Não confio minimamente na carne dos hipermercados, tão barata e com um aspecto terrivel nem sei como as pessoas não pensam o porquê de conseguirmos comprar um frango por 2€... Ao reflectir-mos sobre os nossos hábitos alimentares já estamos a ajudar e muito, nós próprios e, consequentemente, o nosso organismo + mente e ainda estamos a contribuir para um planeta mais consciente, saudável e livre. Imaginemos que todos nós eramos vegetarianos: será que teriamos de sacrificar a amazonia para cultivarmos ainda mais vegetais?

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    2. Antes de mais muito obrigada por gastares o teu tempo a comentar.
      Já vi o cowspiracy e muitos outros documentários do género e cheguei a conclusão que essa é a realidade dos EUA. Tudo bem que sendo dos EUA e tb do mundo, porém portugal não explora os animais dessa maneira tão brusca. Não estou aqui a defender o consumo de carne, até porque nunca gostei realmente do sabor da carne e não a como há uns bons anos.

      Bem sabemos que uma dieta macrobiótica e vegana são das mais saudáveis e que a prática de yoga e meditação todos os dias ajudam nos a focar e a melhores condições de vida. Mas uma coisa é saber, a outra fazer. A questão aqui é que cada pessoa tem o seu processo. Eu já ando a debater me com isto do vegetarianismo há anos e acabo por cair na caldeirada de choco do pai ou no sushi delicioso. Não quero simplesmente obrigar me a não comer a caldeirada, cheia de desejos pois estou a contribuir para a exploração animal. Pode até ser um acto monstruoso para alguns vegans mas leva tempo e devemos respeitar o tempo de cada um. A evolução faz se com pequenos passos até chegarmos ao topo :) e sim, um dia vou ser vegetariana!

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  5. Olá,

    Ao ler este post, e tendo tentado ser vegetariana, vegana e tentado (a maior parte dos dias) ter uma alimentação saudável e equilibrada. Lembrei-me de um conceito que vi nessa minha aventura na alimentação. Reducitária (não sei se será a melhor tradução). Uma pessoa que se preocupa em consumir menos animais. Fica aqui para espreitares:
    http://reducetarian.org/

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    1. Ola Lúcia!
      Partilha muito interessante, nunca tinha ouvido falar do conceito de reducitária e penso que a iniciativa do link que me deste e bem interessante.
      Estou nesse caminho do comer menos animais e penso que já vou em 85% vegetariana.

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  6. Uma vez alguém me disse que não somos verdadeiramente vegetarianos se não percebermos que não comer carne ou peixe pode não ser a resposta. Imagina, és vegetariana, mas, certo dia, a única coisa que te dão para comer é um bife... vais recusar? Não. Precisamos de nos alimentar. Fazemos as nossas opções no dia-a-dia. É mesmo bonita alimentarmo-nos de certa forma porque nos sentimos bem a fazê-lo e por sabermos fazer bem ao ambiente, mas, somos humanos e cedemos a certas tentações, precisando até delas, às vezes!
    Achas que me fiz entender?
    Olá, desculpa ser depois do comentário, sou nova por aqui e estou a gostar de ver os teus relatos de viagens e aventuras.
    Beijinhos :)

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    1. Muito obrigada Joana pela opinião. Entretanto sou vegetariana há um.ano e agora estou no processo de me tornar vegan, muiiiiito dificil devido à parte social. Por exemplo, jantares de grupo ainda há o bitoque sem bife ou a omelete que me safe, vegan só mesmo salada e sopa, não é bacano =P

      Hoje em dia já me faz imensa confusão detalhes como uma cabeça de peixe.no lixo nos santos populares. O meu respeito pelos animais cresce dia após dia.

      Mas siiim se não tivesse mais nada que comer ia pra lata de atum, o bife, qualquer coisa que apanhasse. Mesmo os vegan que fazem dumpster diving recolhem fiambre e assim porque tb São a favor do não desperdício. Enfim, este assunto é daqueles que dá pano para mangas.
      Volta sempre Joana =)

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  7. Olá Marta! :)
    Cheguei aqui através de uma busca por casas abandonadas, uma vez que escrevo contos e queria saber um pouco mais sobre esse assunto...
    Quero parabenizar-te e parabenizar-vos por esta ideia e pela fotografia lindíssima e inspiradora, acompanhada de lindos textos (o texto sobre o Ricky fez-me chorar).
    Entretanto vi este post sobre vegetarianismo e decidi comentar...
    Deixei de comer carne em 2009 e apenas anos mais tarde deixei também de consumir ovos, leite e mel...
    No entanto, este percurso de consciência por um mundo melhor é mais complicado do que parece... Pelo menos para mim. Não me considero vegan, uma vez que por vezes tenho de recorrer a medicamentos para curar constipações que despoletam a crises asmáticas, e compro regularmente alimento para as gatas que adoptámos que possuem ingredientes animais...
    Além disso ainda peco com algo que parece muito simples mas que para mim não é, que são os detergentes, principalmente os de lavar loiça... Ainda que conheça pelo menos uma marca que não possua ingredientes animais nem faça testes em animais, nem sempre consigo comprá-lo pela razão de ser muito caro e já tentei fazer detergentes caseiros, mas nenhum ficou bom...
    relativamente a encontros sociais, tenho a sorte de sair muito pouco, mas deixo uma ideia de uma torrada deliciosa que fizeram para mim certa vez num aniversário meu e desde então voltei ao mesmo restaurante/café para a comer, e já a fiz várias vezes em casa:
    Uma torrada regada de azeite, polvilhada com orégãos frescos e fatias de tomate.

    Tudo de bom, bom percurso pelo mundo vegetariano e maravilhosas viagens! :)

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  8. Concordo contigo!! Aqui em casa estamos a tentar reduzi a quantidade de carne que comemos e investir no peixe, que é algo que sempre comemos com fartura. Verdade seja dita, é difícil, porque os meus pais sempre comeram muita carne, pelo que cortar radicalmente é um grande não. Mas lá devagarinho, vai-se reduzindo nas quantidades e nas vezes que se come. Por vezes, faço refeições sem carne ou peixe, porque adoro experimentar receitas vegetarianas (os cogumelos frescos parecem carne), mas acho que nunca conseguirei ser vegetariana ou vegan no sentido extremo da palavra. Pessoalmente gosto demasiado de enchidos e tudo o que esteja ligado ao fumeiro (dos meus prazeres em termos alimentares) e de queijos, se bem que sou intolerante à lactose...

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Grata por comentares, adoro saber o que passa pela tua mente.

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